quarta-feira, 14 de maio de 2008

Salve o Botequim "Pé-Sujo" !!

Taí um verso que eu cantei, pra dentro, todos os dias desde que me entendo por gente.
Cantei pra dentro. Hoje eu canto pra fora. Canto alto. Ora batendo forte na palma da mão, ora riscando o chão com a pemba imaginária marcando o terreiro em que piso com respeito e pedindo a proteção contra os maus elementos.

E canto – ao contrário do Paulinho da Viola – pra dizer que no meu coração agitam-se, sim, as ondas de uma paixão perene que sofre, dia após dia, o ataque enfurecido dos maus elementos e daqueles que dão sustento a eles.

Vou explicar, vou explicar!

Os maus elementos são os que se apresentam com uma cara que não é a real. São, e estamos falando de buteco, pô!, os estabelecimentos comerciais que visam apenas o lucro e que se apresentam como BOTECO, BOTEQUIM, esses troços. Vou dar nome aos bois para que tudo fique ainda mais claro.

Aqui no Rio os maus elementos são – para citar apenas alguns – o "Boteco Belmonte", o "Botequim Informal", o "Espelunca Chic", o "Devassa", o "Tô Nem Aí", o "Conversa Fiada", o "Antônio´s" – não o sagrado, hoje conspurcado pelos mesmos que gerem a rede "Belmonte", que ainda abriram o "Codajás" –, o "Manoel & Juaquim", bares que pretendem iludir o incauto consumidor. Metem na entrada uma placa onde se lê BOTECO, BOTEQUIM, e pronto: neguinho acha que está, ó, dentro de um autêntico buteco – com "u" mesmo.

Mas eles não se satisfazem com umbar, não. Eles abrem franquias. E essas franquias se transformam em filiais. O que eu chamo de "Mc Donald´s de bêbado".

E essas filiais são como uma metástase.

Com o dinheiro que têm – lembrem-se de que quem toca os estabelecimentos comerciais que visam apenas o lucro são investidores, e investidores não jogam pra perder – vão passando por cima de todos os botequins mais vagabundos aos quais eu não resisto como um rolo compressor e destruindo a história de um povo, a história de uma cidade, a história de uma tradição.

Eu, lá em cima, falei dos maus elementos e dos que dão sustento a eles. Não vou dar, exatamente, nome aos bois, isso daria muito trabalho. Mas não vai ser difícil perceber que há uma coerência no meu canto pra fora – não mais pra dentro! - como uma denúncia contra essa máfia que contribui – sabe-se lá a que preço – para o incremento dessa indústria mentirosa que atenta contra o que há de mais caro ao carioca.

Você abre um jornalão e está lá, na capa, a fotografia do estabelecimento. Você vai à matéria anunciada na capa e está lá o depoimento de um bobalhão sobre o pastel de funghi com berinjela servido nesses lugares de lamentáveis condutas. Abre outro jornalão e está lá, mais propaganda explícita, com a criação de expressões tão nojentas quanto nojento é o modus operandi das assessorias de imprensa desses verdadeiros impérios que crescem como trepadeira: é o "boteco pé-limpo", o "pé-sujo fashion", e outras pérolas do gênero.

Por isso eu canto, diariamente, que eu não resisto aos botequins mais vagabundos, os autênticos, onde bebe o carioca da gema, onde bebe o pinguço fundamental para a composição do cenário que me comove, onde bebe o sujeito que sequer sabe da existência de tanto mal elemento por aí.

Salve, portanto, todos os "pés-sujos" - DE VERDADE !!!