quarta-feira, 14 de maio de 2008

Bar Bacaninha do Castelo


Em meio aos gigantes de concreto, encravado nas unhas do dedo mindinho da sede da OAB, do Edífíco Orly e da sede da Federação de Bandeirantes do Brasil, no Centro, o Bacaninha do Castelo luta para manter viva a tradição de mais de 30 anos, com aluguéis sempre pagos em dia, cerveja sempre gelada, um balcão de discussões políticas ou banais. Há algum tempo, a portinha que guarda azulejos antigos, uma pilastra no meio do balcão, doses de maracujá e limão das boas e um legado de família tentam reverter a idéia da Federeção, dona do prédio, de retomar o bar, sabe se lá para fazer ódique!

"Aqui é o ponto de encontro da abobrinha, dizem que se botarmos uma lona vira circo", brinca Carlos, genro de Alexandre, um dos donos ao lado dos irmãos Álvaro e Arlindo. A parceria deu ao bar o apelido de Três Porquinhos, que já completou 30 anos. A regra ali é simples: cerveja gelada, batidas e tira-gosto. Não tem almoço e a tabela é simples. Todos os sanduíches - seja de carne assada, pernil, salaminho... - saem por R$ 4. Qualquer porção - a lingüiça é da boa - custa R$ 12. As cervejas - Brahma, Antarctica e Skol - valem R$ 3. E valem mesmo, pois é a famosa c...de foca. Copo de limão ou maracujá é R$2, no capricho.

"Nossa freqüência mistura advogados, políticos (Miro Teixeira é um deles) e jovens, que aparecem mais na sexta-feira. Quinta é o dia da clientela fiel, um ponto de encontro dos clientes mais antigos. Estamos na luta para manter o Bacaninha aqui, tentando perpetuar a cultura do pé-sujo, tradição do Rio que vem sendo sufocada", desabafa Carlos.

E o Bacaninha - ou Três Porquinhos - sobrevive. Dois restaurantes modernos que eram vizinhos já fecharam as portas. Nem aí para as decisões que são tomadas poucos andares acima, ali, no Bacaninha, o que vale é a política sócio-etílica de balcão. "O cliente que vem comprar um cigarro varejo ou beber cerveja é tratado de forma igual. Só não pode ir ao banheiro e mijar no chão", brinca Carlos, tricolor aposentado do Maracanã.

Além dos parentes que tocam o bar, Evaldo, 68 anos, é o único funcionário, com 14 anos de casa. A cara fechadona na foto esconde um serviço de primeira e a satisfação por fazer parte da história do Bacaninha. No comando da cozinha, Evaldo faz os sandubas e ovos cozidos, além de servir os 'remedinhos' (doses de Teacher´s) e o 'chumbinho' (mel, cachaça, alcatrão e limão).

Devido à violência e ao vazio daquele pedaço do Centro aos sábados e domingos, o bar abre as portas de segunda a sexta, das 6h às 21h. Numa tarde de sexta-feira, depois de sair da rádio, fui pedir à benção naquele balcão. Bacaninha é pouco. Vida (ainda mais) longa aos Três Porquinhos!

Avenida Marechal Câmara, 181, Loja A1 - Centro