quarta-feira, 14 de maio de 2008

Brasileiros têm baladas exclusivas no Japão


Nas festas têm de rolar todos os estilos de música.
Quem sofre com os gostos são os DJ e promotores.


Na pista, a galera se esbalda ao som do funk, que é cortado por um forró, seguido de axé. Eclético demais? Não numa balada brasileira no Japão. "Festa para brasileiros aqui tem de tocar todos os estilos, senão a casa corre o risco de fechar as portas", garante o promoter e produtor de eventos de Mitsukaido, província de Ibaraki, Everton Rodrigo Rosa, de 27 anos, mais conhecido como Bruce.

Maurício Luiz Galhardo, 28, o "Salsicha", de Hamamatsu, tem uma explicação: "A comunidade brasileira do Japão é formada por pessoas de diversas regiões do Brasil e cada um tem uma preferência musical". Produtor de eventos, ele já atuou como DJ no Brasil e hoje organiza uma média de 15 festas por mês no Japão. Todas para brasileiros. "Teve época que fazia até três num dia só em lugares diferentes”, conta ele, que passou a investir também no mercado japonês e internacional.

O Japão é famoso pela produção de festas para descolados e modernosos, e também um celeiro de DJs e produtores musicais. A noite em Tóquio, por exemplo, ferve tanto quanto em Nova York ou Ibiza, paraíso dos "baladeiros". Mas quando se fala em diversão, a comunidade brasileira prefere o aconchego das festas organizadas por conterrâneos e que tenham DJs brasileiros.

"A gente pode até tocar o mesmo estilo de um DJ japonês, mas para o brasileiro o diferencial vai ser as músicas brasileiras", opina Ricardo Wakuta, de 35 anos, o DJ Dino. Além disso, ele diz que as baladas são o único ponto de encontro e de paquera da galera que vive no arquipélago. Galhardo concorda com o colega. "Essas festas são importantes para a socialização da comunidade. A maioria dos namoros e até casamentos nasceram nas baladas", atesta o profissional.

Espaço para todos

Um dos mais antigos DJ da comunidade brasileira no Japão é Ricardo Wakuta, de 35 anos, que começou a tocar em festas em 1992. "Na época só tinham três grandes festas para brasileiros", conta ele, que aprendeu a profissão depois que chegou ao país, em 1991. "Meu sonho era ser DJ e vim com o objetivo de comprar equipamentos para me profissionalizar", diz.

O pontapé inicial foi um conjunto de toca-disco que achou no lixo. "Comprei um mixer e estudei através de um vídeo que minha mãe me enviou do Brasil", lembra ele, que já ajudou muita gente a produzir festas no país. "Hoje o mercado está mais profissional e há espaço para todos", garante ele, ao lembrar que existem cerca de 50 DJs no mercado brasileiro do Japão, dos quais uma dúzia conseguiu entrar no concorrido mercado japonês.

Concorrência

Por ser uma das poucas diversões dos trabalhadores brasileiros que vivem no Japão, as baladas foram se multiplicando pelo país. Estima-se que hoje sejam realizadas mais de 100 festas por mês na comunidade. "Com isso, o mercado se profissionalizou e hoje tudo é feito com seriedade, desde a produção do flyer até a contratação de seguranças", conta Cláudio Willian Makiyama, o DJ Claudinho, que também organiza festas em Nagoya, província de Aichi, e tem uma escola para DJs.

Sérgio Murata, de 43 anos, de Toyota, também na província de Aichi, é outro que promove festas para a comunidade e garante que a concorrência fez com que o público passasse a exigir mais qualidade na produção delas. "As pessoas querem ver coisas diferentes e temos de buscar essas novidades para garantir o sucesso", fala o empresário, que aproveitou a febre do pole dance (dança no mastro), estimulada pela novela "Duas Caras", da Rede Globo, e instalou na sua casa noturna uma pista com mastros. "O povo se diverte", garante.

Criatividade não falta também para Bruce, que jogou cerca de US$ 1 mil dólares ao público em notas pequenas no final da última festa. O tema era Topa Tudo por Dinheiro e a cada evento mais novidades. "É de forma inovadora que a gente ganha fidelidade do público", ensina.