terça-feira, 13 de maio de 2008

Catra lança a "Sagrada Família"


Ele já foi acusado de fazer apologia ao crime e ao sexo. Agora pretende levantar a bandeira contra a exploração de MCs e Djs dentro do movimento funk. Para isso, Mister Catra criou uma espécie de selo chamado "Sagrada Família" que reúne gente como os MCs Pé de Pano, Bigulin, e Duda – da antiga dupla Willian e Duda -, e os DJs Capela, Buiú, Sandrinho, entre outros. Segundo Catra, eles poderão lançar seus trabalhos baseados em contratos justos e colocá-los nas lojas do modo como desejam, sem a exploração dos "Faraós do Funk" - como Catra define alguns DJs e donos de equipes de som que ganham dinheiro em cima do sucesso dos outros.
""Já vi muita coisa triste nesse meio por causa da exploração. MC com música estourada nas rádios, mas passando fome, e gente que deu tiro na cabeça por não ter como pagar as contas", diz ele.

O primeiro trabalho do "Sagrada Família" chega às lojas em junho com um CD que vai reunir 20 faixas, 10 dedicadas ao funk, e as outras 10, ao hip hop.

"É tudo muito simples: se parar de botar lenha no forno, a fornalha apaga. Vamos fugir da escravidão dos faraós do funk", diz essa espécie de Moisés moderno que pretende guiar seus MCs e DJs pelo deserto em busca de uma terra prometida.

O que é a Sagrada Família?
O nome Sagrada Família veio de um amigo meu, o DJ No Break. A gente estava conversando quando ele falou: "O nome do nosso clã é sagrada família porque nossa relação é sagrada, somos uma família de verdade". Gostei daquilo e achei que traduzia bem uma idéia que já tinha há algum tempo de reunir uma galera dentro do movimento funk e hip hop para tocar de forma justa.

Como surgiu essa sua idéia?
Surgiu vendo um monte de sacanagem que acontece por aí. Um monte de injustiça e exploração. Quantas pessoas têm no funk? Quantas pessoas já fizeram sucesso? Se você for ver direitinho, são poucos que tem uma casa para morar ou um carro no seu nome. Eu não sofrer é uma coisa, mas ver outras pessoas sofrendo me incomoda.Via muita gente passando necessidade. Gente como Mc Espiga, Mascote e Raposão, MC Cacau... Se fosse em qualquer outro país, a classe estaria melhor.

Quem foi o primeiro que chegou para fazer parte dessa sagrada família?
Já andava muito com os caras, e na hora de fundar o movimento, já estava todo mundo por ali. Não teve um primeiro.

Mas você tem uma galera da antiga que está retomando, não? Como o MC Duda?
Não, o Duda nunca parou. Só ficou fora da mídia. Ano passado ele tocou em um festival na Finlândia. No funk, a gente tem que ir para a Europa para ser respeitado no Brasil. Ele mostrou coisas novas, e também toda a discografia dele.

E quem são os exploradores? Os chamados "Faraós do Funk"?
Eu não sei quem são. Eu sei que é o mal do funk. Não vou citar nomes porque todo mundo sabe quem é. E não ficar falando porque meu negócio não é falar, mas todo mundo sabe quem são os malditos. Queria que todos estivessem assim: (aponta pra sua sala) com sua casa, seu carro, sua moto e mantendo sua família.

Você não quer falar nomes, mas pode contar melhor como funciona o esquema de exploração?
Rola cartel, manipulação, tem MC que está estourado nas rádios e vai tocar em troca de R$ 100 para 4 mil pessoas. Normalmente, um show desses tem entrada a R$ 10. Faz as contas! Os caras embolsam R$ 40 mil e pagam R$ 100 para os artistas. Os artistas não recebem direito de imagem, às vezes ficam até sem o direito autoral da música. Isso é um crime porque é o sonho dos MCs. Você pega o funkeiro da favela, que tem aquela arte, e os caras sugam e deixam só o bagaço. Vários entram para o crime, desesperam-se a ponto de suicidar. Já cheguei na casa de um MC e ele tinha explodido os miolos, como aconteceu com o MC Goró. Pegaram o contrato dele e colocaram na gaveta, e o cara sem grana pra viver. O funk é um movimento discriminado, então as pessoas que omanipulam, têm espaço pra fazer o que quiserem sem ser importunadas.

Mas você está investindo no movimento e não vai ganhar nada? O que diferencia você de um faraó desses?
Estou investindo e vou receber a minha parte na hora certa. O que me diferencia desses caras é que minha conversa é justa e é diferente com cada um. Não posso exigir a mesma coisa de um Mc que está começando agora, como exigiria de um que já tem um trabalho na rua.

Por que você não caiu nessa armadilha e conseguiu se manter sozinho?
Acho que tive sorte, e também porque meu funk é diferente. Minha intenção é trazer toda uma cultura à tona. Fui buscar coisas no exterior e trouxe pra cá.

Mas existem as versões proibidas das suas músicas.
Mas eu não falo palavrão. As pessoas entendem o que eu quero dizer, mas sem falar nada. Não estou falando de sexo como sacanagem estou falando com amor (risos). Sexo é amor. Sacanagem é salário mínimo (risos). E demais a mais, você vai para a noite para quê? Para dançar, para se divertir e se rolar, rolou, né?! E a gente cantando uma letra gostosa, facilita tudo. A intenção da noite é gozar no final.


Mas não parece diferente dos outras caras quando você canta "sabe esses dias em que você acorda de ressaca/ sua roupa está cheia de lama/ e a cachorra está na cama".
É diferente por causa da minha intenção que é trazer toda uma cultura. Buscar coisas lá fora e trazer coisas pra cá. Também tem diferença porque eu falo do sexo sem falar palavrão.

E o Catra social que cantava a vida na favela? Acabou?
Ele nunca foi embora. O CD da "Sagrada Família", que vai se chamar "Papo Reto" vai ter essa pegada. Mas também não adianta ficar só pingando sangue a vida inteira. Também não preciso ficar falando isso porque já está no jornal. Se você ficar falando muito isso, as pessoas te confundem. Eu estou cansado de ser confundido e ser perseguido. Dou minha idéia dentro de um contexto politicamente correto e boto a galera pra dançar.

Foram esas perseguições que fizeram você partir para esse lado mais sensual?
Sempre tive esse lado mais sensual porque eu sempre toquei "Au, au, cachorra, gatinha, miau", "Meter é bom" e "Capõ de Fusca". Sempre tive essa vertente erótica. É sacanagem, mas é melody. Minha inspiração é na prática. Tenho muitas musas.

Quantas musas você tem?
Várias. Gosto muito de lésbica, entendeu?! Descobri que é um ritual mais bonito. O feromônio fica mais forte. Deixo as meninas se conhecendo, e aguardo o momento certo de entrar em ação. Quando a chapa esquenta, elas se lembram de mim, com certeza.

Tem alguma lésbica em especial com quem você tem vontade de transar?
Tenho um tesão louco por Ana Carolina. Pegava com certeza. Ou melhor, pegava não, me embolava com ela.