sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

GUIA DA CERVEJA


Uma paixão sem fronteiras

Lá como cá, uma verdadeira paixão. Neste campo, no entanto, os alemães dão de goleada. Claro que não se trata de futebol. Em se falando de Alemanha, o assunto só poderia ser cerveja. Só para se ter uma idéia, o consumo de cerveja per capita na Alemanha é estimado em 130 litros ao ano, o que coloca o país como o segundo maior consumidor da bebida no mundo. Os campeões mundiais do consumo de cerveja? Acredite, a República Tcheca é a grande campeã.

Apenas no primeiro semestre de 2005, os alemães consumiram nada menos do que 44 milhões de hectolitros. Nada mal para um país de clima temperado e inverno rigoroso. São cerca de 1.270 cervejarias espalhadas por todo o país, que produzem cerca de cinco mil marcas, de diferentes tipos e níveis alcoólicos, o que promete ser uma atração a mais para quem vai acompanhar a Copa do Mundo de 2006. Principalmente para os brasileiros, tão apaixonados por cerveja quanto por futebol.

Quase todas as cidades têm sua cervejaria, como Munique, onde é realizada a Oktoberfest – a mesma que serviu de inspiração para a tradicional festa realizada anualmente em Blumenau, SC - a partir de 17 de setembro - e Dortmund, uma cervejaria local. Todas seguem à risca o que determina a Lei de Pureza estabelecida em 1516. Segundo ela, apenas água, lúpulo, malte e fermento podem ser usados no fabrico da cerveja. Nada de conservantes artificiais.

O preceito da pureza da cerveja foi decretado, em 1516, pelo duque Guilherme 4º, da Baviera, e vigora até os dias de hoje. Em outros países, o Brasil inclusive, complementa-se ou substitui-se parte dos ingredientes por certos cereais com amido, como o arroz e o milho, o que barateia a produção. Na Alemanha, no entanto, só da purinha.

O que difere regionalmente são as características da cerveja e a forma como se bebe. A berlinerweisse, por exemplo, de Berlim, é feita com malte de trigo, leva apenas 2,8% de álcool e sua temperatura ideal de consumo está entre 8 e 10 graus. Já a kölsch, produzida somente em Colônia e arredores, tem 4,8% de álcool e é servida em copos de 200 ml. A mais saborosa? Descubra, experimentando. Uma por uma. Um desafio digno de verdadeiros campeões do mundo.

Tipos de cerveja

A cerveja é composta basicamente por água, malte (cevada germinada), lúpulo (planta aromática) e levedura. É obtida a partir da fermentação natural da cevada, na qual o açúcar existente nos próprios ingredientes é transformado em álcool. As diferentes variedades de cerveja correspondem às proporções utilizadas de cada ingrediente no seu processo de fabricação. A cerveja escura, por exemplo, é obtida pela caramelização do malte que a compõe, o que altera o seu aroma, sabor e aspecto finais.

Basicamente, as cervejas são classificadas em cinco itens distintos:

1 – Pela fermentação: alta ou baixa fermentação;

2 – Extrato primitivo: leve – entre 5% e 10,5%, comum – entre 10,5% e 12%, extra – entre 12% e 14%, e forte – acima de 14%;

3 – Cor: clara - menos de 20 unidades EBC (European Brewery Convention) e escura - 20 ou mais unidades EBC;

4 – Teor alcoólico: sem álcool (menos de 0,5% em volume de álcool) e alcoólica (igual ou maior que 0,5% em volume de álcool);

5 – Teor de extrato (final): baixo – até 2%, médio – de 2% a 7%, alto – mais de 7%, e extra – de 12% a 14%.

A classificação por fermentação – baixa e alta – distingue, basicamente, as duas grandes famílias de cervejas em todo o mundo: a Ale, de alta fermentação, e a Lager, de baixa fermentação.

As de alta fermentação são aquelas cuja leveduras flutuam durante o processo, em temperatura entre 20°C e 25°C, após fermentar o mosto (o resultado da infusão da água com os demais ingredientes), gerando uma bebida de cor avermelhada, sabor forte, com teor alcoólico entre 4% e 8%, mais encorpada e que pode ser consumida à temperatura ambiente.

As cervejas mais consumidas no mundo todo são as do tipo lager, de baixa fermentação. Isso porque quando são expostas a temperaturas entre 9ºC e 14ºC, o levedo fica depositado no fundo do tanque. Os tipos mais conhecidos de lager são as Pilsener, Munchener, Vienna, Dortmund, Einbeck, Bock, Export e Munich, nomes que, na verdade, homenageiam as cidades de onde vieram as fórmulas.

Um terceiro de tipo de cerveja, a Weissbier ou Weizenbier, originária da Alemanha e fabricada com malte de trigo e leveduras especiais, não contém variações suficientes para ser considerada uma família. Mesmo assim, é muito difundida por toda Europa, principalmente na Bélgica.

Cerveja na Alemanha

A cerveja Lager, de origem tipicamente alemã, tem como principal característica o fato de sua fermentação se dar em baixas temperaturas – de até 2ºC – em contraste com a Ale, na qual esse processo pode se dar até mesmo em temperatura ambiente.

As principais tipos de Lager são:

Bock – Originária do norte da Alemanha. É uma cerveja escura, de sabor mais para doce do que para amargo e de alto teor alcoólico. Doppelbock (bock dupla) e a Eisbock são variações deste tipo de cerveja, com graduação alcoólica ainda mais fortes – até 7,5% e até 14%, respectivamente. Não é encontrada com facilidade por ser uma especialidade de temporada, sendo geralmente mais vendida em dias festivos.

Münchener – O nome remete, obviamente, à cidade de Munique, de onde é originária. Apesar de ser uma cerveja escura ou preta, pode ser bem leve, com sabor forte de malte, semelhante ao café.

Pilsen – Originária de Pils, na Boêmia, hoje parte da República Tcheca, em 1842, é o tipo mais conhecido e consumido em todo o mundo. De sabor delicado, leve, clara e de baixo teor alcoólico (entre 3% e 5%), sua principal característica é a cor dourada e translúcida. Em sua fórmula original, tem sabor suave e um aroma de flores, com presença acentuada do lúpulo. É servida nos copos em forma de tulipa ou troféu e é famosa pela sua coroa cremosa de espuma. É a preferida dos brasileiros. No Brasil, o consumo da pilsen chega a 98% do total, ficando o restante para as do tipo bock, light, malzbier e stout.

A Baviera é o paraíso das cervejarias ao ar livre. Lá, ao se pedir uma cerveja, o torcedor receberá uma Weissbier, servida em grandes copos de meio litro. Mas vários tipos de lager são bastante consumidas na Baviera, assim como em Baden-Württemberg e nas regiões do Rio Ruhr. Bastante apreciada, esse tipo é mais turvo, de sabor um tanto forte e adocicado e passa por um processo de repouso, ficando armazenado durante um longo período, quase completando as quatro estações do ano.

Em Düsseldorf, cidade cuja fama é a de ser o maior balcão do mundo, toma-se a Alt, mais escura e tem um sabor mais amargo. Costuma ser servida em copos menores, que não excedem os 200ml.

Os moradores de Berlim também têm sua cerveja preferida: a Berliner Weisse, de sabor um pouco ácido, cor um pouco turva e servida em taças. Costuma ser apreciada também quando adoçada com glucose de frutas silvestres, como a framboesa e a aspérula. Pelo seu visual, é considerada exótica entre as cervejas. As mais escuras misturadas com coca-cola ou refrigerantes de sabor limão ganham o nome de Russ. Já as mais claras misturadas com refrigerante de sabor laranja chamam-se Alster. Existem as que são misturadas com tequila ou bebidas energéticas com alto teor de cafeína e também com sucos de banana ou de cereja. Os nomes, obviamente, são os mais exóticos possíveis: Bananenweizen ou Kirschweizen.

Já a Kolsch, para a cidade de Colônia, é muito mais do que uma simples cerveja: é uma verdadeira tradição. Só para se ter uma idéia, a cerveja foi declarada especialidade pela União Européia em 1997. Se um garçom, regionalmente chamados de köbes, lhe oferecer uma kolsch, nem pense em recusar, pois tal atitude pode ser interpretada quase como uma desfeita.

Na região de Bamberg, o malte defumado confere um sabor típico a cerveja local. E para os apreciadores da bebida mais experientes, a campeã em teor alcoólico, cerca de 13%, é a Donnerbock, produzida na cidade de Schorschbräu.

E Dortmund, onde a água é de alta dureza (rica em sais mineirais e demais componentes) permanente, é a cidade de origem da cerveja Dortmunder, bastante similar à Pilsen.

Para finalizar, lembre-se de uma dica muito importante no momento de se confraternizar com os alemães: erga sua taça ou copo e clame o prost, vulgo tim-tim para nós brasileiros.

Para aqueles que conhecem a língua alemã, é possível obter mais infoirmações sobre cerveja na Alemanha através do site www.bier.de.

Outros tipos de Ale

Atbier – Caracteriza-se pela grande quantidade de lúpulo e a cor tende mais para os tons escuros. Apesar disso, é de aroma leve.

Barley Wine – Literalmente “vinho de cevada”, pois, ao contrário da maioria das cervejas, pode ser armazenada por anos. Nela, prevalece o sabor forte de malte e lúpulo.

Bitter – Em inglês, significa acre, amargo, em referência ao seu sabor. A sua cor vai do âmbar ao cobre.

Brown Ale – Primeira cerveja fabricada na Inglaterra. Escura, de baixo amargor e sabor adocicado de nozes.

Pale Ale – Tem cor de cobre, mai clara que a Brown Ale.

Porter – Produzida com malte torrado, o que pode transferir para a cerveja aroma de chocolate e de café, com a cor variando do castanho ao preto.

Stout – Cerveja bem escura, originária da Irlanda. No Brasil, a referência de Stout é a Caracu.

Scottish Ale – A cor vai do ouro ao castanho. O sabor pode ser doce, maltado ou até mesmo defumado.

Abadia – Cerveja de alta fermentação, com um sabor surpreendente, resultado do equilíbrio entre o amargor, a doçura e o teor alcoólico.